Medicina sintomática e o acupunturista holista
O conjunto de 3 textos sobre a importância do sintoma na Medicina Tradicional Chinesa (É sintomático – parte I; É sintomático – parte II; É sintomático – parte III) e na MO (Medicina Ocidental) criou uma enorme discussão e algumas questões interessantes. Disso tudo sobressaiu o sentimento que “ser sintomática” é algo pejurativo. Parece que quanto mais é sintomática mais fraca é a medicina, pelo menos na perspectiva do acupunturista holista. Um leitor, levantou a questão:
“Considero este tema bastante interessante. Faz-nos reflectir realmente. Gostaria era de saber então a SUA opinião acerca da ” MTC ser uma Medicina essencialmente sintomática”.
Quais as vantagens e desvantagens em relação à M.Ocidental em termos de diagnóstico e tratamento?”[i]
Realmente o texto levanta a questão de saber quais as vantagens e desvantagens de ser maioritariamente sintomática. Abordar esta questão é sempre complicado, mais não seja porque tem potencial para se tornar numa competição de galos. Quando comentei que a medicina ocidental poderia ter a vantagem de ser capaz de diagnosticar pacientes assintomáticos, ao contrário da medicina chinesa, um leitor comentou:
“Olhe Nuno, porque talvez me apeteça! Porque de facto existe em todo o seu comentário ou uma ponta de loucura ou de ignorância, penso ser esta segunda.
Nuno, deverá cuidar melhor da forma como expoe as suas ideias, porque de facto demonstram a sua grande ignorancia.”[ii]
Outra leitora comentou:
“Eu ainda estava à procura da maneira de responder a esta parte do texto sem ser demasiado agressiva, mas depois da resposta que deste ao Pedro Seixas, qualquer comentário que eu faça teria que ser editado por conter linguagem imprópria.”[iii]
A fraqueza do acupunturista holista
Fica então uma questão: Qual a desvantagem de ser mais sintomática que a MO (medicina ocidental)?
A desvantagem óbvia é que a medicina ocidental tem mais informação sobre o corpo humano. Não só consegue obter mais informação como essa informação é mais objetiva e não se presta a erros subjetivos de interrogatório. Senão vejamos:
A medicina ocidental consegue obter imensa informação acerca do funcionamento de diversos órgãos com exames de medicina nuclear. Como analisar a extensão de uma lesão cardíaca sem fazer um cintigrafia de perfusão do miocárdio? Como estudar o refluxo vesico-ureteral sem uma cistocintigrafia (cintigrafia à bexiga)?
Imensos pacientes podem sofrer de angina de peito. Mas a certeza que a mesma existe só vem após a recolha de informação objetiva de exames de cardiologia.
Obviamente a grande vantagem advêm do facto de se conseguir, com estes meios, diagnosticar problemas completamente assintomáticos, desde problemas cardíacos a tumores, que de outra forma não seriam diagnosticados. O cancro da mama é um bom exemplo do que falo: as taxas de mortalidade por cancro da mama têm estado a diminuir apesar do aumento de número de casos. O que explica estes 2 dados? Parte da resposta reside no uso de exames que permitem diagnosticar cada vez mais cedo o cancro da mama. A tecnologia de hoje permite diagnosticar mulheres que sofrem de cancro da mama, totalmente assintomáticas, e cujo diagnóstico não seria possível há uns anos atrás.
Ironicamente, a medicina chinesa, que se vende como mais holista, porque “Vê o ser humano como um todo” é incapaz de ver o ser humano doente na ausência de sintomas e sinais clinicos. Isto é uma adaga no coração do acupunturista holista.
NOTAS FINAIS
[i] http://nunolemos.com.pt/e-sintomatico/
[ii] http://nunolemos.com.pt/e-sintomatico/
[iii] http://nunolemos.com.pt/e-sintomatico/
Gostei particularmente do ultimo paragrafo…
Concordo contigo. Hoje em dia não faz sentido dissociar ambas as medicinas para uma melhor compreensão de sintomas e diagnosticos. tendo sempre o cuidado de guiar o tratamento segundo os principios da MTC.
Para muitos não deverá fazer sentido visto não terem conhecimentos básicos de fisiopatologia e anatomia. Ou então porque não fará sentido a medicina ocidental na perspectiva da MTC.
Penso que tem que se deixar de lado um pouco aquela visão ” romântica” da MTC e abraçar o que de bom se pode tirar da MO ( neste caso os exames complementares, que poderão ser bastante uteis se bem analizados ).
PS : O Nuno Ferreira aka ” amiguinho” está cada vez mais gordo….ehehehehehehehe
Queria abordar a questão levantada de outra forma, começando por dizer que, na minha opinião, a medicina chinesa sofre de uma verdadeira mecanização. Hoje em dia o diagnóstico na medicina chinesa tornou-se num mero levantamento exaustivo de sintomas e o tratamento uma série de protocolos e fórmulas. Por muito que se fale em Yin e Yang, nos 5 Elementos, na circulação e transformação do Qi, etc… (elementos fundamentais da MTC) na verdade eles contam muito pouco na prática clínica, tanto no diagnóstico como na terapêutica. Quem é hoje capaz de fazer um diagnóstico e definir uma estratégia terapêutica com base na observação dos desequilíbrios energéticos do Yin e do Yang e dos 5 Elementos? Quem sabe reconhecer o factor causal da doença e o seu determinismo, que, de acordo com a verdadeira medicina chinesa tradicional, antecedem a manifestação patológica no plano somático? Quem é o acupunctor com a experiência no diagnóstico constitucional? Se estes elementos estiverem ausentes, o acupunctor perde inteiramente não só a sua capacidade de agir sobre aquilo a que se propõe resolver (porque não percebe o mecanismo que está em jogo) bem como a capacidade de prever a doença muito antes de ela surgir. Antigamente a medicina chinesa era uma medicina preventiva e preditiva. Actualmente se não há sintomas físicos interpretáveis pelo diagnóstico não há doença, manifestada ou latente. Que horror! Felizmente existem ainda escolas em alguns países que ensinam os futuros acupunctores a perceberem o ser humano com base na observação, que é aliás o método sublime do diagnóstico chinês tal como realçou Maciocia num dos seus livros.
Isto porque quando entramos no mundo dos sintomas parece que vale tudo. Na ver-dade, quando a doença está instalada podem surgir inúmeros sintomas, muitas vezes contraditórios, porque no plano funcional o organismo é um todo indissociável, todas as partes interagindo entre si e cada parte interagindo com o todo. Já falei com pessoas que me disseram que o seu acupunctor determinou 4,5, 6 síndromes diferentes, todas presentes ao mesmo tempo. Essas pessoas contam que passaram mais de 1 hora em interrogatório, com o seu terapeuta a listar minuciosamente tudo o que lhe era revelado indiscriminadamente. Sintoma atrás de sintoma, síndrome atrás de síndro-me… onde está a capacidade de reconhecer e discriminar o que é essencial para a determinação do diagnóstico, isto é, a capacidade de separar o trigo do joio? O paciente não sabe o que tem, apenas sabe ou sente que está mal e só pode confiar nos sintomas apresentados. É o acupunctor que deve orientar o interrogatório para recolher o que é significativo do ponto de vista sintomático e não deixar-se iludir pela quantidade de sintomas de que o paciente se queixa. Uma coisa que me ensinaram foi a distinção entre o aspecto quantitativo e qualitativo do diagnóstico, algo que não é ensinado nas escolas.
Um sintoma pode dizer-nos que um determinado órgão está afectado mas como o sintoma é só uma manifestação, não constitui a causa a doença. Poderíamos pensar que a causa está no órgão em desequilíbrio, mas o órgão está integrado num Elemento, tem um conteúdo de Yin e Yang, tem a sua dinâmica energética intrínseca e está em relação com todos os outros órgãos. A coisa é bastante complicada! Natureza, Função, Relação: três elementos indissociáveis na análise sistémica. E para complicar ainda mais, existem vários planos que interagem no determinismo da doença. Não sei se sabes Nuno mas o símbolo da APAMTC é de facto um pictograma onde se inscreve a hierarquia dos planos da constituição do ser humano. Se partimos de baixo (do plano sintomático) dificilmente iremos compreender o que está em cima. É mais fácil descer do que subir, não é verdade?
Fica aqui a minha opinião. Parabéns Nuno pelo teu excelente trabalho neste blog.
Boas Rui
Volta e meia lembro-me de alguma frase que vai conseguir apimentar um pouco mais o texto. lololololol
Acho que não compreendi totalmente a tua resposta. O meu texto não falava sobre dissociar as medicinas. Na realidade ele mostrava que elas se encontram dissociadas. O texto faz referência aos nossos conceitos de holismo e de sintoma e na forma como eles podem ser usados para comparar, em termos de vantagens e desvantagens, as duas formas de medicinas.
Por outro lado fiquei um pouco confuso relativamente ao primeiro e segundo parágrafo. Se os pudesses explicar novamente eu agradecia-te.
Abraço
PS: o nuno está mais forte e mais feliz da vida. lololol
Boas Rodrigo
Penso qu ao longo do teu comentário acabaste por pegar em algumas questões que foram abordadas noutros artigos. Quando isso acontecer eu irei deixar-te um link para os textos correspondentes.
Concordo relativamente à mecanização da Medicina Chinesa. Não compreendo porque achas errado. A MTC é mecanizada. Tem formas de pensar especificas que oferecem coerência interna às suas teorias e que lhes permitem uma aplicação prática. Isto é tipico de um sistema de pensamento amadurecido. Passo-te a explicar porque:
1 – o diagnóstico não consiste somente num mero levantamento exaustivo de sintomas. Também tem os sinais clinicos e acima de tudo a relação que se forma entre sintomas-sintomas; sinais clinico-sintomas, etc… Na análise do diagnóstico também entram em causa outros factores como factores extra-paciente que possam provocar o aparecimento de determinada queixa como “Agrava quando se expõe ao frio”, etc… Isto é o diagnóstico em Medicina Chinesa.
2 – relativamente ao tratamento: existem uma série de fórmulas que, na China, são adaptadas a cada doente. Não vejo como o uso de fórmulas seja mau. Em primeiro lugar é feito à milhares de anos, portante a “mecanização da MTC” não é algo actual, mas sim algo que se encontra na génese da MTC. Em segundo lugar é uma consequência da forma de se classificarem plantas e operacionalizarem acções clinicas de forma a estarem em consonância com os processos de diagnóstico. E existe na acupunctura uma coisa chamada “combinação de pontos” que te mostra como se constróiem e adaptam protocolos aos pacientes. Todo o processo de interrogatório, palpação, definição de diagnóstico, descrição de principios terapêuticos, aplicação de terapias está “mecanizado” na medida em que diz ao profissional como deve fazer as coisas, como deve proceder em determinada situação.
Depois escreveste:
“Por muito que se fale em Yin e Yang, nos 5 Elementos, na circulação e transformação do Qi, etc… (elementos fundamentais da MTC) na verdade eles contam muito pouco na prática clínica, tanto no diagnóstico como na terapêutica. Quem é hoje capaz de fazer um diagnóstico e definir uma estratégia terapêutica com base na observação dos desequilíbrios energéticos do Yin e do Yang e dos 5 Elementos?”
Concordo contigo. Mas não creio que isto se deva à “mecanização” da MTC. Isto deve-se à falta de formação na MTC que é bem diferente.
Quando escreves:
“Antigamente a medicina chinesa era uma medicina preventiva e preditiva. Actualmente se não há sintomas físicos interpretáveis pelo diagnóstico não há doença, manifestada ou latente. Que horror!”
Estás a confundir várias coisas. É verdade que a MTC é uma medicina preventiva. Mas isso não justifica que confundas prevenção com reabilitação. Se existe sintomas físicos já não falamos de prevenção ams sim reabilitação porque o paciente já se encontra doente. A prevenção tem lógica quando não existem sintomas ou sinais clinicos que denunciem a presença de uma doença ou síndrome. Na prevenção previne-se o aparecimento de sintomas. Na reabilitação tenta-se curar ou atenuar o sintoma.
A observação, tal como a palpação ou o interrogatório são todos importantes. Nem nos vamos esquecer que existiram acupunctore cegos ao longo da história da MTC. O que eles não viam compensavam com a palpação e o interrogatório… e alguma observação provável dos colegas. lolol
Depois falaste nos diagnóstico com diferentes síndromes. Sabes que até fico contente quando leio isso, porque se um acupunctor tem a capacidade para reconhecer a presença de 5 ou 6 síndromes, então, em princípio, tem uma boa bagagem de diagnóstico. O que me preocupa são aqueles diagnóstico tipo “estagnação de Qi do Fígado” ou “Vazio de Qi do Baço” – varia consoante as escolas – e que significam uma única coisa: não faço puto de diagnóstico. lololol
É evidente que os acupunctores terão de ser capazes de reconhecer quais os síndromes mais importantes e os secundários de forma a estabelecer os princípios terapêuticos da maneira mais correcta. Mas não te parece que para isso acontecer vão ter de saber quais são todos os síndromes que se manifestam e que tipo de relações existem entre eles? E efectivamente existem pacientes cujo diagnóstico é bem mais complicado fazendo com que o interrogatório demore mais tempo concordas?
Relativamente ao sintoma e manifestação, deixo-te aqui 2 textos que falam sobre o significado de manifestação e causa em MTC:
http://acuforma.com/manifestacao-e-causa-o-que-realmente-significam-em-mtc-parte-ii/
http://acuforma.com/manifestacao-e-causa-o-que-realmente-significam-em-mtc-parte-i/
Ainda te aconselho 3 textos que creio gostarás de comentar:
http://acuforma.com/e-sintomatico-parte-iii/
http://acuforma.com/e-sintomatico-parte-ii/
abraço
Não quero discutir tudo o que escreves-te, apenas queria acrescentar uma coisa a respeito da mecanização que defendes, mas primeiro convém dizer o seguinte: o conhecimento que temos de um sistema depende da forma como o abordamos. Dito de outra forma, só podemos perceber o que nos dispomos a analisar. Isto vai depender da metodologia que aplicamos porque é o método que define o processo cognitivo através do qual o homem conhece. Se não tivermos à nossa disposição um modelo cognitivo adequado às exigências do sistema estudado, o conhecimento que temos dele é reduzido ou então, no pior dos casos, é um conhecimento falso, porque o método limitou a natureza do sistema à forma como o analisou. Citando um cientista famoso: «Não se pode falar de realidade independentemente do processo de medição». Assim, o conhecimento resulta da observação e da experimentação (cujos princípios são determinados pelo método) e portanto, são esses parâmetros que conduzem à definição da realidade do sistema. Daqui se deduz a importância da forma como pensamos.
Deste modo, se analisamos o ser humano de forma mecânica acabamos por reduzi-lo a essa realidade, tornamo-lo numa máquina, num sistema fechado em que só persiste um plano somático; tudo o resto é excluído ou então é analisado da mesma forma, isto é, em termos mecânicos. É o que acontece, por exemplo, quando pedimos a um cientista para nos explicar o que é para ele a alma. Ele, ou nega a sua existência porque não dispõe de uma metodologia capaz de a compreender e integrar na sua concepção da realidade, ou vê-a como se tratasse de um elemento físico semelhante à matéria que ele analisa no seu laboratório. Se no primeiro caso estamos na presença do dog-matismo (uma forma disfarçada de ignorância), no segundo encontramos o reducionismo. O dogmatismo é uma negação do conhecimento e o reducionismo uma limitação do conhecimento.
O ser humano não é uma máquina. Se quiseres ficar convencido disso, Nuno, lê os textos dos filósofos taoistas, e verás que a realidade do ser humano é muito mais do que a realidade material regida pelas leis da física e da química. A ciência impõe uma mecanização de todos os processos. Se defendes a mecanização, defendes a ideia de que o ser humano é um autómato. Lao Tse dizia que a alma do ser humano faz a mediação do Céu com a Terra, do Yin e do Yang, o espírito a entidade que se orienta pelas leis eternas do Tao, enquanto o corpo funciona como a morada dessa eternidade. Não vês aqui um conhecimento perdido? Habituamo-nos de tal forma a pensar em termos de causa e efeito, linearmente, que perdemos o conhecimento do verdadeiro ser humano mediador entre o Céu e a Terra, tal como o entendiam os taoistas.
Fica bem.
Boas Rodrigo
Eu não defendo mecanização nenhuma. Se calhar o problema está mais no termo “mecanização” nque noutra coisa. lolol Será preferível ou menos ofensivo usar “operacionalização”?
Basta ires procurar a qualquer livro de diagnóstico em Medicina Chinesa para saberes que é um sistema clinico baseado na análise de sintomas físicos e psíquicos. QWue fala da relação desses sintomas, dos sinais clinicos, da relação com factores ambientais causais, etc… Não sei porque isto é tão negativo.
Relativamente ao conhecimento que temos de um sistema: Acho que se deve ter cuidado porque o sistema é idêntico para todos. Quer queiramos quer não existe efectivamente uma realidade objectiva. Concordo contigo, com algumas reticências, que muitas vezes só nos pdoemos aperceber daquilo que pretendemos analisar. muitas vezes até só vemos aquilo que queremos ver.
Relativamente à forma como a MTC analisa os sintomas. A MTC é um sistema de pensamento médicos e, como tal, tam base nos sintomas e sinais clinicos do paciente. Não sei como isto permite ver o ser humano unicamente como uma máquina. Também não compreendo em que momento isto torna o ser humano “num sistema fechado”. Na realidade quando dizemos coisas do género “sintoma X agrava com estados de irritabilidade que são desencadeados por problemas profissionais” ou quando se afirma “exposição a tempos húmidos agrava a dor que se fixa mais nas articulações” estamos exactamente a fazer referência a sistemas de pensamento que vem o ser humano como “um sistema aberto”. Neste caso, um sistema que troca informação com o exterior.
Nem o cientista, nem ninguêm tem capacidade de medir o que quer que seja em relação à alma. Depois do discurso de analisar o mundo seria bom que pudesses usar exemplos que podem realmente ser verificáveis ou observáveis. A alma é um conceito esotérico-religioso que não é passível de ser estudado. Nem tem lógica ser analisada então. Nem sei porque metes o conceito de alma à discussão, também não nos serve de muito a não ser que agora a MTC também faça diagnósticos à alma.
Quanto ao ser humano não ser uma máquina: isso vai depender mais das qualidades que nós associamos ao termo “máquina” e pouco tem a ver com a discussão relativa ao diagnóstico em MTC. lololol
Os chineses desenvolveram diferentes crenças esotéricas ao longo dos anos. Os confucionistas defendem determinadas coisas enquanto os neo-confuncionistas ou outros defendem outras. Nós estamos a falar de MTC. Se quiseres falar da importância da religião para o paciente excelente. Caso contrário nem vejo como o que acabaste de escrever no último parágrafo possa ajudar a compreender o diagnóstico em MTC. Queres acreditar na alma? queres acreditar em crenças confucionistas? Força nisso. Mas isso não tem muito a ver com o diagnóstico em Medicina Chinesa. Como fazes o diagnóstico dessa ligação terra-céu? Como diagnosticas os problemas da alma?
“Realidade material refida pelas leis da física e da química?” Já sei a ciência é materialista e vê o ser humano como autómato, etc… Não me leves a mal, mas o teu problema não é somente quereres acreditar em coisas subjectivas como se fossem realidade objectivas. O teu problema é não conheceres muito da ciência que criticas. Já tive esta discussão no passado, tanto neste blogue como noutros.
Deixo-te esta questão: onde está o materialismo em coisas como o fotão que é uma partícula sem matéria? Onde está o materialismo na teoria da gravitação universal que nems e consegue ver? O ciência está cheia de descobertas que não tem nada de materialismo: teoria do caos, por exemplo.
E em que medida é que essas criticas tem alguma coisa a ver com a forma como se faz diagnóstico em MTC? Os sintomas do Vazio de Yin, ou os diagnósticos em termos de padrões clinicos/síndromes já eram conhecidos antes da revolução cientifica. Portanto em que medida o “materialismo” cientifico afecta o diagnóstico em Medicina Chinesa?
Abraço e boa páscoa
Pois, eu pensei que tinha alimentado a tua ideia com o que estava escrito, na minha “posta”…ehehehe
Do que tenho partilhado, muitos acunpuctores não se preocupam com os exames complementares porque acham que não fazem falta e tu dás exemplos de como podem ser valiosos recursos que podem ser tomados em conta.
Acho que ando com algum problema de expressão severo, o meu mar das medulas não deve andar a ser bem irrigado. Ou isso, ou tenho que ir fazer alguma tomografia à cabeça…
Bom fim de semana…
Eu é que acho que tenho um problema de expressão. lololol
O artigo não era sobre a validade dos exames de diagnóstico. Ele é uma critica ao discurso diário “a medicina ocidental é sintomática” e vem na sequência de uma discussão sobre esses textos.
Neste caso pensava somente chamar a atenção para as vantagens que existe em ter exames que oferecem informação objectiva e, obviamente espicaçar alguns leitores com a análise ao holismo. lolol
abraço
Oi Nuno
Parece-me que estás demasiado influenciado pelo modelo e pensamento científicos. Eu tenho formação científica portanto sei do que estou falar e estou perfeitamente apto a criticar a ciência, ao contrário do que pensas. Aquilo que tu chamas objectivo por vezes confunde-se com objectivação, que é algo diferente. Os meus professores e colegas estudavam o ser humano como se fosse um boneco articulado, o tal autómato que fiz referência, fruto dessa tentativa em tornar tudo o mais simples e objectivo possível para melhor compreenderem o que analisavam. Essa objectivação e essa simplificação reduzem a nossa capacidade de compreensão sistémica e integrada. Dei o exemplo da alma, não para tornar o assunto religioso porque não sou uma pessoa religiosa, mas para dar a entender essa rejeição de conceitos que desconhecemos e de que não dispomos de modelo para apreender. Portanto, mesmo que para ti seja demasiado obscuro o conceito de alma não podes afirmar que ela não pode ser medida só porque não dispões de metodologias para a avaliares. A alma não é apenas um conceito esotérico e religioso, (acho que houve uma precipitação da tua parte quando afirmaste isso), é também um conceito filosófico, passível de ser apreendido através da reflexão. Não é estranho por isso que muitos cientistas façam alusão à alma nos seus livros. Podia ter escrito, em vez de alma, Qi ou Shen, é a mesma coisa. Lidamos com coisas as quais nunca investigámos com precisão, tendo em consideração a organização estruturada do ser humano, ou seja, os diferentes planos que o constituem: psíquico, intelectual, emocional, somático, etc… A grande dificuldade está na hierarquização desses diferentes constituintes.
Trabalhei em laboratórios de pesquisa e vi em primeira mão as limitações do método científico. Devias ter assistido às minhas aulas de biologia molecular e perceberes que o professor que ali está compreende tão pouco sobre o que é a vida. Depois de 12 anos de estudo e trabalho científico cheguei à conclusão que à ciência não lhe interessa mais compreender o “porquê” das coisas, apenas o seu funcionamento. Esse professor sabia descrever minuciosamente todos os processos que ocorriam nas estruturas biológicas, mas não fazia a menor ideia do porquê da existência da vida e chegou mesmo a condenar o interesse por esse conhecimento. É grave! Não podes confundir a natureza de uma coisa com aquilo que a faz funcionar. Porque razão acreditas que a medicina chinesa é imune a esta visão reducionista da vida? A ciência entrou em todos os domínios do conhecimento, mas isso não quer dizer que a medicina chinesa não tenha perdido algo antes do seu aparecimento. Lê se puderes os primeiros parágrafos do Livro do Imperador Amarelo onde é feita a referência ao homem dos antigos dias. Talvez te apercebas do que falo.
Penso que a medicina chinesa sofre da mesma condição: só lhe interessa compreender o que é acessível através da observação directa do funcionamento das coisas. Por isso, o diagnóstico é centrado apenas no aspecto sintomático e daí são feitas deduções a respeito dos outros aspectos. Será que podemos entender o que significa verdadeiramente o Qi dizendo que um paciente tem um Vazio de Qi, porque apresenta sintomas que o comprovam? Não me parece. O mesmo se aplica ao Shen, ao Yin e ao Yang, etc… Podes achar que estou a ser sentencioso mas já estudo e pratico medicina chinesa há uns anos e, no contacto com colegas de profissão, reparei que não sabem muito bem do que estão a tratar mesmo tendo resultados clínicos bastante satisfatórios. Coloco a questão a outro nível. É certo que a medicina chinesa é eficaz, e objectiva, ela apresenta uma certa sistematização que podemos considerar científica porque já vai provada ao longo dos anos da sua existência. No entanto, se a abordagem é limitativa seja em que aspecto for, acabamos inevitavelmente por cometer erros. Quem foi ensinado a interagir com o fluxo energético das energias do Yin e do Yang na harmonização do interior com o exterior do ser humano? O Yang é de natureza celeste e o Yin de natureza terrestre, portanto, são energias do Céu e da Terra. Já pensaste como é que essas energias exteriores entram no ser humano ou contentas-te com o que vem escrito nos livros de referência moderna? E se existe um Yang e um Yin exteriores e interiores, quem faz a comunicação dos dois? De que forma se restabelece a harmonia do Céu e da Terra no homem? Foi por isso que dei o exemplo de Lao Tse, especialmente da definição que ele faz da alma, que me parece muito sistémico. Penso que existe um professor na ESMTC cuja orientação filosófica e terapêutica é semelhante a esta.
Talvez a nossa discórdia em relação ao assunto se deve mais a forma como divergimos na maneira como pensamos e raciocinamos, visto que temos os dois formação científica e praticamos medicina chinesa. Bem, a discussão de ideias é sempre rica quando os intervenientes respeitam a opinião do outro, mesmo que não concordem com ela.
Fica bem.
ehehehehe Realmente….e era exactamente esse aspecto, que referes no ultimo paragrafo de resposta que queria salientar. Vou começar a estrutar as postas de outra forma…
Boas Rodrigo
Antes de tudo gostaria de te agradecer os comentários. Volta e meia aparece um leitor com o qual se podem estabelecer discussões bastante interessantes. Eu continuo sem concordar contigo em muitos aspectos e passo-te a explicar porquê, relativamente ao último comentário:
1 – Uma coisa é uma abordagem reducionista de um problema. Outra é uma abordagem funcionalista. Apesar de existir uma predominância da abordagem reducionista, no método cientifico, as duas são necessárias. Dou-te um exemplo pessoal. A minha tese de licenciatura em Medicina Nuclear foi sobre plantas com capacidade radioprotectora. Uma das falahas que apontei nos estudos existentes foi nãos e preocuparem em desenvolver uma abordagem mais funcionalista do uso conjunto de diferentes drogas naturais com potencial radioprotector. Os estudos seguiam uma filosofia essencialmente reducionista. No entanto, mesmo não desenvolvendo uma perspectiva funcionalista, foi através desses estudos que começámos a compreender a forma como essas plantas ofereceiam radioprotecção. Foi dessa forma que se descobriu que uma planta pode ter diferentes principios activos e que cada um desses princípios activos pode ter diferentes capacidades radioprotectoras e podem intervir em diferentes locais da célula (núcleo, mitocôndria, membrana celular, etc…). Foi através desse métofo que se descobriram os mecanismos celulares através dos quais certas drogas oferecem radioprotecção. Os imensos sucessos da ciência são mais que suficientes para demonstrar a validade do pensamento reducionista. Obviamente que isto não nos diz que uma abordagem funcionalista também não nos pode oferecer informação valiosa.
2 – Relativamente à alma, ou a qq outro tipo de conceito esotérico-religioso (e não creio que me tenha precipitado. Obviamente que podemos filosofar sobre todo o tipo de conceitos sejam religosos ou não. E até podemos tentar racionalizá-lo. É isso que muitas religiões tentam fazer às suas crenças de forma a tentar validá-las.). O problema é que esse conceito não é passível de ser analisado objectivamente. É essencialmente subjectivo. Qualquer crença pessoal, ou mesmo experiência pessoal, pode ser sujeita a reflexão (e normalmente é-o) mas isso não significa que tenha realmente validade.
3 – Relativamente às limitações do método científico. Eu acho que o método cientifico é como a democracia. É o pior sistema que existe, com excepção de todos os outros, pelo menos tentando parafrasear Churchill. O métodos cientifico é extremamente limitado. O problema é que é o método mais desenvolvido que existe. Que outro método conheces que tenha realmente atingido os sucessos do método cientifico? Relativamente ao “porquê” das coisas. Obviamente que muitas das vezes o “porquê” é muito mais dificil de ser conhecido. Eu dou-te um exemplo simples: já os fenicios antigos sabiam que a terra era redonda. Um grego de Alexandria chamado Erastóstenes, até conseguiu medir a circunferência da terra usando apenas uma vara, com uma precisão excepcional. Mas para o fazer teve de considerar que a terra era redonda. A forma mais fácil de saber que a terra é redonda consiste somente em observar um barco a desaparecer no horizonte. Mas porque é que a terra é redonda? Este porquê só se conseguiu explicar muitos séculos após a vida de Erastóstenes.
4 – relativamente ao que a Medicina Chinesa perdeu. Não reparaste que a tua resposta contêm um paradoxo. Supostamente a MTC tem eficácia comprovada ao longo dos séculos. No entanto ela perdeu algo. Se ela perdeu algo e se tem eficácia comprovada, então, se calhar foi bom ela ter perdido esse algo? Bem mas isto é uma bricadeira minha. rsrsrsrs
5 – à MTC não interessa unicamente a observação, mas também a palpação ou o interrogatório. A MTC como sistema de pensamento médico precisa de se basear nos sintomas. Não vejo como isto seja reducionista. Ela analisa a existência de sintomas, ela analisa a existência de sinais clinicos e relaciona-os entre si e outros factores como o meioa ambiente (agrava com exposição ao frio) ou hábitos de vida do paciente (tem dor de cabeça quando dorme pouco; os vómitos agravam quando bebe muito vinho; etc…). É nisto que se baseiam os primeiros parágrafos que aconselhaste do imperador amarelo. Não vejo como isto seja reducionista.
6 – relativamente ao qi, yin, yang e outros conceitos chineses. Espero que não me leves a mal, mas por muitas coisas que escreveste dás a entender que não compreendes o que esses conceitos significam. Tu escreveste coisas como:
“Quem foi ensinado a interagir com o fluxo energético das energias do Yin e do Yang na harmonização do interior com o exterior do ser humano? O Yang é de natureza celeste e o Yin de natureza terrestre, portanto, são energias do Céu e da Terra. Já pensaste como é que essas energias exteriores entram no ser humano ou contentas-te com o que vem escrito nos livros de referência moderna?”
Nem o qi, Yin ou Yang são energias nem tem energias. Obviamente que não compreendes o conceito qi por conheceres os sitnomas de um vazio de qi do pulmão. Mas muito menos o compreendes quando fazes traduções literais e erradas de qi como energia (o mesmo é va´lido para o yin ou yang). No entanto já escrevi muito sobre este assunto pelo que prefiro deixar-te com links para alguns textos que decerto irás achar interessantes:
http://acuforma.com/qi-como-se-traduz-como-se-compreende-parte-ii/
http://acuforma.com/qi-como-se-traduz-como-se-compreende/
http://acuforma.com/yin-yang-versus-energias-positivas-e-negativas/
http://acuforma.com/o-que-e-o-qi/
Abraço
Oi Nuno
Vou tentar ser mais explicativo desta vez e dar alguns exemplos. Estudei medicina chinesa em Inglaterra no Worsley Institute. Mais tarde quando me encontrei com acupunctores com formação noutras escolas, como em Portugal, ao discutirmos casos clínicos e conceitos, parecia que não estávamos na mesma área, que praticávamos medicinas diferentes. Reparei que eles davam maior importância ao que o paciente relata, portanto, surgiam ao longo do interrogatório uma imensa quantidade de sintomas os quais o terapeuta enquadrava esquematicamente em síndromes, e depois definia o plano de tratamento em função disso servindo-se dos protocolos propostos. O problema não está, vê se me compreendes Nuno, no levantamento dos sinais e dos sintomas, mas na falta de discriminação do acupunctor em relação a esses sintomas. Nem todos os sintomas são relevantes para determinar o padrão clínico, isto é quando pensas em termos de 5 Elementos.
Eu aprendi a fazer diagnósticos com base na observação (e palpação) dos desequilíbrios manifestados e latentes dos 5 Elementos, do Qi e do Yin e do Yang. Para mim não são assim tão importantes os sintomas pois a partir da determinação da constituição do paciente, do estado do Qi dos 5 Elementos e do Yin e do Yang sei quais os sintomas que ele apresenta (os que tu adquires através do interrogatório) e, em certos casos, sei qual vai ser a evolução em termos sintomáticos. A maior parte das vezes só faço 3 ou 4 questões aos meus pacientes, para além da queixa principal, é claro. O Worsley ensinou-nos uma acupunctura constitucional, semelhante em certos aspectos à acupunctura praticada no Japão onde também é dada maior importância ao estado dos Elementos. Foi assim que comecei a desenvolver uma medicina onde o mais importante é a prevenção e a predição da doença (e não reabilitação porque isso implica o surgimento da doença). A uma medicina preditiva importa o estado dos centros reguladores do organismo, no caso da medicina chinesa tratam-se dos 5 Elementos. Todos os órgãos e estruturas do corpo estão incluídos nos 5 Elementos, as suas funções e dinamismo energético podem ser entendidos da mesma forma, ou seja, em termos de Elementos. É o desequilíbrio energético destes Elementos que vai dar origem à doença.
Se digo que a medicina chinesa é objectiva e eficaz ao mesmo tempo que afirmo que perdeu algo, não vejo aqui nenhum paradoxo. O melhor exemplo que te posso dar é precisamente o que acabei de descrever: o acupunctor perdeu a sua capacidade de observação. Vê o que escreveu Maciocia em relação ao diagnóstico pela observação. Passo a citar:
«O diagnóstico pela observação é um dos aspectos mais importantes do diagnóstico chinês. Antigamente, era considerado a arte mais elevada do diagnóstico e a marca de um médico superior aquele que fosse capaz de diagnosticar simplesmente pela observação de um paciente, sem ter a necessidade de perguntar ou de palpar nada.»
Antigamente era assim, hoje mesmo na China esta forma de diagnóstico não é importante. No livro do imperador amarelo é feita a tal referência ao homem antigo que se governava pelas leis da natureza e respeitava os princípios da virtude. Esse homem não conhecia a doença pois o Qi, em todas as suas manifestações, circulava harmoniosamente no seu corpo e alimentava a sua essência e o seu espírito. O Qi, o Yin e o Yang são energias e não conceitos abstractos. Se os consideras como tais é porque não compreendes o que realmente a tradição (e não só chinesa) quer dizer com o homem mediador entre o Céu e a Terra.
Portanto houve algo que se perdeu, mas isso não quer dizer que a medicina chinesa tenha ganho ou perdido seja o que for na sua eficácia terapêutica: o que se perdeu foi o aspecto tradicional da medicina chinesa. No que respeita à prevenção e predição da doença, até ao momento, não conheci ninguém que se interessasse por isso. Houve até uma pessoa que me disse que se tratamos uma pessoa que não está doente ela fica com a impressão de que não fizemos nada e não regressa ao nosso consultório. Não concordo com este tipo de afirmações. Mas também se alguém vier ao meu consultório doente não vou mandar essa pessoa sair só porque não se enquadra na minha forma de ver a terapia. Quando trato a dor sirvo-me de outro tipo de acupunctura, semelhante de certeza aquela que praticas. Cada caso é um caso.
O que aprendi ao longo dos anos por experiência própria foi que não é a ciência, ou a filosofia, ou a medicina em si que importam, mas a pessoa que se serve delas para questionar e agir sobre o mundo. O sujeito é um parâmetro fundamental, pois toda a experiência é realizada em função da forma como o sujeito apreende o objecto. Se deste o exemplo da física quântica para justificares que a ciência moderna não está encerrada no materialismo, uma coisa que ela veio-nos alertar (mas que já era do conhecimento das ciências tradicionais) foi que o sujeito não é uma entidade neutra: a simples observação tem força para alterar o que observamos. Existem teorias científicas que considero muito interessantes, como por exemplo a teoria das super-cordas. Não sou uma pessoa céptica nem dogmática. Apenas me importa o conhecimento. Desta forma a crença para mim não significa nada pois não tem nenhum valor epistemológico. Do mesmo modo, não me interessam certezas nem factos que não impliquem uma visão sistémica e integrada do sujeito sobre o que ele apreende objectivamente através da observação e da experiência.
Dou-te mais um exemplo: na faculdade, quando comecei a estudar em pormenor a molécula do ADN e a genética disseram-nos que cerca de 90% do nosso património genético não servia para nada e não merecia ser analisado. Mais tarde cheguei à conclusão óbvia que o problema não estava nessa parte “inútil” do ADN, mas nos meus colegas cientistas que não entendiam como funcionava 90% da nossa constituição. Ainda por cima existe um princípio biológico que diz que a vida não cria nada que não lhe seja útil ao seu desenvolvimento, coisa que não lhes interessou. Para eles (e para a comunidade científica em geral) era mais cómodo afirmar isso do que admitirem a sua ignorância. Portanto quando falo de reducionismo refiro-me a este tipo de coisas. A ciência pode estar extremamente desenvolvida, mas se olhamos o mundo pelo microscópico não nos apercebemos do que está à nossa volta. É por isso que essas situações são muito frequentes. A ciência actual só pode estudar fenómenos repetíveis. Há muita informação que não é tomada em consideração devido a isso. Portanto não penso em termos de sucesso mas de compreensão.
Fica bem.
Boas Rodrigo
Em nenhum momento eu afirmei que a observação não era relevante. O que eu afirmei é que além da observação também existia a palpação e o interrogatório. É evidente que a observação é importante.
E é avidente que nem todos os sintomas apresentam valor semiológico. Dou-te um exemplo: um paciente apresenta poliúria (aumento do débito urinário) e urina pálida e bebe 3 litros de água por dia. Será a poliúria um sintoma com valor semiológico?
Mas sem conheceres os hábitos de vida do paciente (o que consegues através do interrogatório) não sabes se esses sintoma é relevante ou não.
No texto seguinte menciono este problema:
http://acuforma.com/infertilidade-e-sintomas-importantes-na-medicina-chinesa/
Creio que tenho mais alguns textos que falam sobre este assunto mas já não os encontro. lolol
Não concordo totalmente quando dizes que através da observação encontras todos os sintomas que se encontram através do interrogatório. Até porque, muitas vezes, o importante não é só saber se o sintoma existe mas sim caracterizá-lo. Mais não seja quando um paciente vai ter contigo tem de te dizer qual a queixa principal. Caso contrário muito dificilmente chegas lá.
Relativamente ao número de questões que se levantam no interrogatório, tudo depende do caso clinico. Existem pacientes cujo padrão se analisa bem com 3 ou 4 questões. Outros isso não acontece. Se quiseres fazer uma anamnese completa precisas de falar com o paciente. Repara que o diagnóstico passa por conhecer a história da queixa. Consegues pela observação dizer-me há quanto tempo existe uma queixa? Consegues descrever-me a história clinica do paciente somente através da observação?
Acho que tu ficas sempre muito focado no que se fazia antigamente. A MTC evoluiu e desenvolveu tanto a observação como a palpação e o interrogatório e acima de tudo a compreensão que faz da análise clinica do paciente. Mais uma vez te digo: com observação unicamente fazes uma anamnese muito pobre.
Relativamente ao livro do imperador amarelo: o que ele fala é tudo aquilo que é falado em termos de arte da saúde e longevidade. É os 5 elementos, yin yang, etc… mas em que é que isso te dá razão? Tens de conduzir um interrogatório ao paciente para saber se ele tem hábitos de vida de acordo com as suas necessidades e de acordo com as leis da natureza. Tens de saber se uma queixa agrava quando ele dorme menos! Tens de saber se a queixa está associada à insónia que acabou por ser derivada de trabalhar por turnos! Tens de saber se a queixa agrava com tempos húmidos ou não, etc….
Relativamente à prevenção e reabilitação. Qualqiuer medicina procura focar-se nesses 2 aspectos: prevenir o aparecimento de doença ou ser capaz de a curar quando ela aparece. Evidentemente que na maioria das vezes nós preocupamo-nos com a reabilitação. Isso é fácil enetender: quando uma pessoa se sente saudável não vai fazer consultas de MTC. As pessoas consultam-nos quando estão doentes. É a mentalidade delas. E na maioria das vezes consultam-nos porque não tiveram resultados em mais lado nenhum. São casos clinicos complicados.
Vais fazer medicina preventiva numa pessoa doente? Depois parece-me que te passou despercebido um pequeno pormenor: os meios usados na MTC são os mesmos para a prevenção e reabilitação; os fins é que são diferentes. Tu pensas da mesma forma quando queres tratar ou prevenir, porque as torias usadas e as terapêuticas disponíveis são as mesmas.
Relativamente à doença e ao desequilíbrio energético. Desequilíbrio energético não existe em MTC. Continuas a traduzir mal os termos. De qualquer forma já te passei textos e fontes suficientes a falar desse problema. Se quiseres também poderás comentar esses textos. lolololol Em vez de falarmos em “desequilíbrios energéticos” seria mais correcto falarmos em desarmonia yin yang. A doença não é derivada de um desequilíbrio… ela é o desequilíbrio. Em MTC tens duas formas de classificar os sintomas e sinais clinicos do paciente: através dos padrões clinicos/síndromes ou através de doenças. São coisas diferentes mas nenhuma é derivada de um desequilíbrio… elas são os desequilíbrio.
depois continuo a resposta mas agora estou mesmo apertado de tempo.
abraço
Viva colegas,
o que eu vejo, à partida, como o principal problema é a dificuldade dos pacientes em pagarem a tantos médicos para exames e mais exames (que ao menos são comparticipados, alguns!) e depois ainda terem que vir pagar os nossos tratamentos que não tem comparticipação. Ora, assim é dificil fazer um diagnóstico holístico (que quer dizer total) pois como sabemos a maioria dos pacientes não está financeiramente disponível ou não está para aqui virado. Diga-se de passagem que a prevenção seria o melhor remédio, mas isso já é outra história. Aí é que não haveria forma de suportar o que quer que fosse.
Normalmente quando um paciente chega a nós, é porque já correu muito, e por vezes chega num estado lastimável. Muitos já fizeram os tais exames. A nós cabe-nos ver o seu ESTADO ENERGÉTICO através dos tais questionários, sintomas, lingua, pulso, envolvente, seria até interessante que o paciente fosse também a um psicólogo (mais gastos), enfim, estão a ver qual o problema do tão almejado holismo? falta de meios monetários dos pacientes por um lado, e falta de um sistema de saúde que queira mesmo a saúde das pessoas, e ainda, falta de lobies, nomeadamente farmaceuticos, que queiram mesmo a saúde holistica. Acho que o real problema é que nem tão cedo esta questão se verá resolvida, se é que alguma vez se verá.
Portanto, colegas, façamos o nosso melhor com o nosso diagnóstico. Deveremos continuar a pedir (para não dizer exigir) aqueles que nos procuram, para fazerem exames médicos de despiste e de certezas.
Temos que ser nós a educar também o paciente, e de qualquer forma, avisar que nos dias de hoje quem quer realmente a saúde tem que pagar caaaro! Num mundo onde as pessoas dizem que a saúde é realmente o mais importante, não admira que tanta gente queira ganhar algo com essa fraqueza do ser humano.
Entristece-me esta realidade, mas sozinha não posso fazer mais que isto.
Estou a tirar um curso de psicologia para ver se pelo menos acrescento mais uma componente de diagnóstico à MTC.
É dificil ser-se um “curador” hoje em dia! Mas já que aqui estou, vão ter que me aguentar!
Força colegas! Façam o melhor que souberem todos os dias. E aperfeiçoem-se um pouco mais todos os dias!
Ana Guerreiro