Osteopatia Fisioterapia e Acupuntura

Recentemente, em Portugal tem-se observado a uma mistura cada vez mais frequente de técnicas provenientes de áreas tão distintas como a osteopatia fisioterapia e acupuntura. Inserir agulhas no corpo humano não foi a primeira coisa que muitos fisioterapeutas pensaram quando se inscreveram nas suas licenciaturas.

As razões que levam estes diferentes profissionais a interessar-se por outras técnicas são muitas: vazio legal que proteja uma dada profissão, desejo de autonomia profissional, desejo de procurar ser o melhor terapeuta possível, desejo de ganhar mais, etc…

Independentemente das razões que levam um dado profissional a procurar por outras técnicas fora de sua área base este movimento de massas gera novas dinâmicas sociais, novas tendências e isso ajuda-nos a compreender como funciona o mercado e para onde se dirigem estas classes.

Para termos uma compreensão melhor do que está para vir seria crucial considerarmos uma análise do que une e divide estas profissões. Comecemos pelos fisioterapeutas.

Os fisioterapeutas

Os fisioterapeutas são uma classe profissional bem estabelecida, com boa formação científica, com um crescimento forte mas que ainda não tem total autonomia profissional em muitos locais, apesar de já poderem ter consultórios próprios. Os fisioterapeutas estão a entrar em força pela osteopatia e pela acupuntura. E estão a inovar usando essas técnicas.

Os osteopatas

Os osteopatas estão a formar-se como classe, tem um boa formação científica base (prejudicada pelo facto que ainda não há cursos regulamentados) e uma lei que lhes garante plena autonomia profissional.

Os osteopatas também querem entrar em força com a acupuntura e na fisioterapia através de técnicas que não são exclusivas dos fisioterapeutas. Os osteopatas precisam de entrar nestas novas áreas para se reinventarem e desenvolverem na medida em que se desenvolve o conhecimento científico.

Os acupuntores

Os acupuntores estão a formar-se como classe, tem uma má formação científica, uma lei que lhes garante plena autonomia profissional, mas não estão minimamente interessados em entrarem no mundo da osteopatia e da fisioterapia. Pelo contrário, é comum movimentos dentro dos acupuntores a protestarem contra a intrusão dos fisioterapeutas. Os acupuntores não querem entrar noutras áreas e não querem deixar ninguêm entrar na deles.

O choque científico

Creio que existem várias razões pelas quais a osteopatia fisioterapia são muito mais permissivas relativamente à invasão de cada uma das suas áreas. Uma delas está relacionada com a dificuldade em conseguir separá-las no dia a dia. É muito difícil distinguir determinadas técnicas. Este fenômeno já não acontece com a acupuntura onde o uso da agulha de acupuntura é característica única.

Outra tem a ver com a sua capacidade de reservar as suas técnicas. A fisioterapia tem mais poder que a osteopatia uma vez que esta última ainda não está totalmente regulamentada mas mesmo assim existem uma série de técnicas usadas pelos fisioterapeutas e que não são exclusivas. Uma profissão bastante forte a conseguir segurar as suas técnicas é a medicina.

Outra está associada à sua formação base: anatomia e biomecânica. Partem dos mesmos princípios científicos e tem um portfolio de tratamento com muitos pontos em comum. Se a formação é a mesma, se a forma de ver o mundo é a mesma dificilmente estas áreas se irão afastar.

Não existe nenhum choque científico entre osteopatia fisioterapia. Pelo contrário, existem uma série de características de interesse a cada uma das áreas: a fisioterapia tem os conhecimentos de reabilitação desejados para o crescimento da osteopatia, a osteopatia dispôe de um conjunto de técnicas que permitem ao fisioterapeuta ter resultados mais rápidos, a fisioterapia tem uma classe profissional forte, a osteopatia tem autonomia profissional garantida pela lei, a fisioterapia amplia a capacidade terapêutica do osteopata, a osteopatia aumenta os rendimentos do fisioterapeuta (basta comparar os custos de uma consulta de fisioterapia com osteopatia!). Acredito, que atendendo a estas nuances todas o diluir de fronteiras entre osteopatia e fisioterapia seja cada vez menor.

Com a acupuntura acontece algo diferente. Existe um claro choque científico entre as crenças energéticas (leia-se puramente esotéricas) devido à falta de formação científica dos acupuntores e o conhecimento anatómico e raciocínio clínico dos fisioterapeutas.

Quando técnicas de acupuntura como punção seca ou eletrólise percutânea são vendidas como se não fossem acupuntura, sendo esta definida exclusivamente co pontos de acupuntura e meridianos, e são descritas como técnicas para fisioterapeutas (fisioterapia invasiva) é uma forma dos mesmos se distanciarem dos conceitos tradicionalistas e esotéricos que imperam junto aos acupuntores e de usurparem, obviamente, novas ferramentas terapêuticas para a classe.

Acupuntura e osteopatia

Separadas pela ciência mas coladas pela política. Ambas se encontram classificadas como Terapêuticas Não Convencionais. Os seus interesses políticos e sociais estão colados mas quando se aborda a questão da formação científica e o raciocínio clínico a acupuntura e a osteopatia estão em universos diferentes.

A acupuntura em Portugal vive de energias imaginárias e analogias simplistas de termos chineses, a osteopatia de biomecânica e raciocínio clínico fundamentado em anatomo-fisiologia.

Se os acupuntores portugueses reconhecessem as falhas que tem em formação científica, do vazio cultural que representam muitas escolas e associações, do tempo que perdem em lutas de comadres e teorias da conspiração e conseguissem perceber o potencial que tem associar a acupuntura com as técnicas e raciocínio clínico osteopático, então poderia existir aqui uma ligação realmente importante.

Até agora quem se apercebeu claramente das vantagens de integrar estas diferentes modalidades terapêuticas foram os fisioterapeutas e em pequena medida os osteopatas. O futuro é assegurado àqueles que tem visão.

Conclusão sobre osteopatia fisioterapia e acupuntura

Estas 3 classes distintas (osteopatia fisioterapia e acupuntura) por motivos ideológicos, por formação científica, por pressão política, por necessidades económicas, pela vontade de evoluir encontram-se interligados numa rede complexa de interesses profissionais, sociais e culturais que tem provocado choques e que no futuro irão gerar conflitos profissionais e novas dinâmicas sociais.

A extensão destas novas dinâmicas e a consequência que terão para os diferentes profissionais ou classes profissionais ainda não é totalmente visível, mas de momento os fisioterapeutas levam uma clara vantagem. A vantagem inicial num sistema social costuma ser essencial para definir quem se irá dar melhor no futuro.