Osteoporose e osteófitos entram na minha aula de acupuntura

Numa aula, faz uns tempos, tive uma discussão interessante com alguns alunos sobre osteoporose e osteófitos. Tenho reparado que muitos alunos, assim como profissionais, caem no erro do facilitismo. Neste caso falo no desleixe observado na rapidez com que fazem diagnósticos tipo chapa 5. Torna-se mais fácil fazer associações imediatas e simplistas sobre determinadas queixas e determinados padrões clínicos do que estudar aprofundadamente os sintomas do paciente. Como o leitor já deve ter reparado falo do diagnóstico tipo chapa 5 envolvendo queixas como dor por osteófitos (bicos de papagaio), osteoporose e vazio de yin do rim. Esta associação é feita imediatamente porque o yin é material e o rim tem importância no fortalecimento e crescimento dos ossos.

É necessário cuidado quando fazemos determinadas analogias em Medicina Chinesa. Todas as analogias têm as suas limitações. O facto de yin ser material (estrutura óssea) e o rim estar associado ao fortalecimento e crescimento ósseo não significa que qualquer problema ósseo seja devido a um vazio de yin do rim. Osteoporose e osteófitos são coisas muitos diferentes com sintomas muitos diferenciados.

Sintomas, sintomas, sintomas

O vazio de yin do rim é uma forma de classificar um conjunto de sintomas. Exprime uma realidade clínica objectiva que nem precisa estar associado a dores ósseas. Problemas urinários caracterizados por urina escura e escassa, lombalgia tipo moinha que melhora com pressão e agrava com calor, zumbidos, boca e garganta secas, suores nocturnos, etc… são sintomas que nos ajudam a diagnosticar um padrão de vazio de yin do rim.

No entanto, muitos pacientes com osteoporose não têm este tipo de sintomas. Outros têm este tipo de sintomas mas não se encontram minimamente associados à osteoporose. Na realidade a osteoporose pode ser assintomática. O que em termos de Medicina Chinesa significa que a pessoa não tem problema de saúde nenhum (uma falha devido a um sistema de pensamento baseado na análise de sintomas. Nem tudo são rosas na MTC). Quando a osteoporose se manifesta, o principal sintoma costuma ser dor. É a análise da dor que nos dá o padrão clínico e não uma analogia repentina entre ossos, rim e yin. Dor intensa, acompanhada de sensação de peso, maior incidência da dor nas articulações (articulação coxo femural, neste caso), possível edema local, agravamento da dor com frio e alivio com aplicações locais de calor dificilmente poderá ser diagnosticado por Vazio de Yin do Rim. E dificilmente será bem tratada com fórmulas tónicas do yin. O padrão de Humidade-Frio é evidente. A aplicação de fórmulas tónicas do yin irão agravar os sintomas devido a 2 factores. Em primeiro lugar a tonificação do yin vai agravar o padrão de humidade, uma vez que deveríamos estar a eliminar humidade. Em segundo lugar, as drogas tónicas do yin são de natureza fresca ou fria (geralmente) e a dor agrava com o frio. Em vez de aquecermos os meridianos (canais) arrefecemos. O problema com os osteófitos (bicos de papagaio) é semelhante. Sem a análise das características próprias dos sintomas e da relação que se forma entre estes é impossível fazer o diagnóstico. E uma má prescrição pode ter efeitos nocivos na evolução da queixa do paciente.

Osteoporose e osteófitos não se deviam misturar em analogias simples

Não só os alunos mas os diferentes profissionais deveriam desenvolver uma consciência critica dos seus conhecimentos. Usando conhecimentos base facilmente podemos colocar em causa estes diagnósticos chapa 5 envolvendo osteoporose e osteófitos. Por exemplo, a diminuição da densidade mineral óssea deve-se a alterações metabólicas ósseas, com a produção de novas células ósseas, por exemplo. Neste caso a osteoporose deve-se a alterações de função com consequência estruturais. Mas a função é uma característica yang. Então porque não pode ser um vazio de yang? O diagnóstico tipo chapa 5 da osteoporose e osteófitos faz-me lembrar os discursos holistas de medicina chinesa. Qualquer um os consegue fazer. Mas nem todos o sabem praticar na clínica. Acima de tudo, deve o leitor lembrar-se, que é uma estrutura complexa definida pela presença ou ausência de sintomas e as ligações entre os mesmos que sustentam um diagnóstico em MTC.