Choque de ideais e confusões entre holismo e empatia
É impossível falar sobre Medicina Chinesa sem alguém falar em holismo. E obviamente que após se falar em holismo, necessariamente, tem de se criticar a medicina ocidental… pela falta de holismo. Afinal de contas os médicos atendem os pacientes em 5 minutos… e são antipáticos, algumas das vezes. Felizmente não fazem cirurgias cárdio toráxicas em 5 minutos.
O que as pessoas não fazem ideia é que na maioria das vezes estão a confundir holismo e empatia e nem se estão a dar ao trabalho de analisar as condições em que os diferentes profissionais de saúde trabalham.
Um exemplo holista
Comecemos por alguns exemplos holistas, considerando o holismo como uma forma “de ver o ser humano como um todo”. Quando as pessoas comem bolachas estão a ingerir hidratos de carbono. Esses hidratos de carbono vão ser necessários para a produção de insulina que através de processos bioquímicos vai dar origem a triptofano que por sua vez é um dos percursores da serotonina. A serotonina é um neurotransmissor que está associado à felicidade. Pessoas com baixos níveis de serotonina apresentam tendência para sofrer de depressão.
“Quer ser feliz? Coma bolachas”. Isto bem que poderia ser um slogan das bolachas Maria. A questão que aqui se prende é esta: será que o que escrevi representa uma perspetiva holista? Afinal de contas usei um alimento, falei de bioquímica e fisiologia até chegar a uma emoção humana.
Posso usar outros exemplos. A osteoporose previne-se ingerindo cálcio, para os ossos, apanhando Sol para a pele produzir vitamina D, que vai ser necessária para o osso absorver o cálcio, ou comer alimentos ricos em vitamina D e fazer exercício físico para fortalecer o osso e a musculatura à volta do osso. Fui holista suficiente? E sem falar de Medicina Chinesa. Quem diria que era possível fazer afirmações holistas recorrendo à ciência “materialista”.
Holismo e empatia: não se devem confundir
A verdade é que eu poderia ficar aqui a noite toda (já são quase 2 da manhâ) a escrever exemplos de fisiologia médica, bioquímica e fatores ambientais numa perspetiva holista dentro da Medicina ocidental. Não se preocupe que não vou ficar aqui a noite toda a escrever.
Como uma médica de família referiu, e muito bem, numa discussão no Brahmi, todos os sistemas clínicos que existem são holistas. Teoricamente a Medicina Ocidental é tão holista quanto a Medicina Chinesa.
A maioria das vezes que se criticam os médicos, não é pela falta de holismo da Medicina Ocidental mas sim pela falta de empatia. Pelo pouco tempo que aquele médico nos oferece e, muitas das vezes, pela forma como nos trata. Mas isso tem a ver com condições de trabalho e com a forma como uma classe se decide comportar. Não tem nada a ver com holismo. Afinal de contas holismo e empatia são coisas diferentes.
Não sei se deverias de falar em empatia, nem de generalizar. O Holismo é mais uma daquelas com que te entupem os ouvidos com a qual tens que quase obrigatoriamente concordar. Excepções à parte, claro.
Para mim, conta a eficácia e quero lá saber de um belo sorriso colgate e de mil festinhas e carinhos verbais. A falta de um sorriso colgate há outros atributos que podem ser uma mais valia…
PS – pensava que o Plateau é que era…
Boas Rui
Acho que tu tens poderes excepcionais. Como sabias que depois de escrever este texto comecei a pensar noutro que fala exactamente sobre o que é importante para o paciente? lololol
PS: já lá não vou há algum tempo. Tenho viajado mais para o Indochina. Agora quero ver se começo a ficar mais vezes em casa. lolol
abraço
Olá Nuno
Reli este post algumas vezes antes de decidir escrever isto.
A noção de Holismo é um pouco mais vasta que a alimentação e o exercício físico – não se refere ao indivíduo como ser isolado, mas à ideia do Ser/de ser no Mundo.
O senhor dito cujo, o Holismo, é tido como umas das características académicas do sistema teórico do NeiJing e refere-se a duas ideias principais: o indivíduo (está) integrado na Natureza; o indivíduo (deve) seguir as regras da Natureza. (a bolacha Maria é de desconfiar, o sol ainda passa.. lol) Esta ideia abarca a geografia, o clima, as Estações e tudo o mais que nos rodeia, e como vivemos a vida em função (ou não) disso.
(Já agora as outras características são: a diferenciação de síndromes, e a ideia de função – esta foi só por curiosidade)
Dá-me um exemplo Holístico de prescrição médica que obedeça a qualquer uma das ideias acima citadas e aí podemos de mãos dadas percorrer os meandros do Holismo Ocidental.
Eu dou-te 1: Com certeza que beber uma cervejita no Verão é uma actividade holistica (está mais do que adequada ao clima, à Estação..), mas quando esta actividade se torna um hábito (no pico do Inverno a rapar um frio de morte estás no Bairro Alto com uma cerveja gelada na mão) pode conduzir à doença.
(isso do Plateau ou indochina estás perdoado que já estamos a entrar na Primavera e tal.. é quase holístico lol)
Sei que gostar de gerar discussão (útil) – as ideias são para plantar, observar o crescimento, podar quando precisam, adubar nas alturas certas.. Aqui está o meu enxerto para a tua árvore. lolol
Beijo que isto é quase 1h e o meu relógio holístico está a dar sinal lol
*
…..por acaso são 3 ideias principais lolol
São já os sinais do tal relógio holístico..
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Boas Joana
Já agora um aparte: a base do holismo em MTC é mesmo a diferenciação de síndromes. lololol Só para dar um pouco mais de enfase neste ponto que passa despercebido a muitos holistas. lolol
E a Medicina Ocidental tem imensos exemplos de prescrições holistas. No entanto tem de ser compreendidas numa intervenção mais vasta: imagina um paciente que sofreu AVC: ele vai ter um atendimento imediato à conta de medicamentos – que numa perspectiva bioquímica são perfeitamente holistas -, vai ter uma prescrição futura de medicamentos e exercícios acompanhados pelo fisiatra e fisioterapeuta. Estes exercícios e outros tratamentos serão adaptados às necessidades da pessoa.
Obviamente que com isto não digo que a MO seja mais ou menos holista que a MTC. Digo sim que o holismo está inserido nela e que muitas das vezes a critica não vai para o pensamento, holista ou não, médico mas sim para a forma como somos atendidos: é uma questão de empatia.
O exemplo que usaste da cerveja eu posso usá-lo para a água ou para os alimentos e ele é feito também pela MTC: comam mais frutos durante o verão, hidratem-se melhor no calor, etc… lolol
Obviamente que, e já me conheces bem, este texto não foi escrito para falar de tudo mas somente de uma pequena parte que gerasse discussão.
Estou a planear outro texto que decerto também acharás importante e tem a ver com o modelo biomédico, o modelo holista e a perspectiva ecológica.
Os estudos que fiz em psicologia da saúde, quando estudava medicina nuclear, levaram-me a uma conclusão interessante: estas 3 perspectivas existem em todos os sistemas de pensamento clinico, em todas as medicinas tradicionais e modernas.
A questão que fica é esta: qual deles tem maior uso nos diferentes tipos de medicina? Por exemplo quando falamos da relação do homem com a natureza isso tem mais a ver com a perspectiva ecológica do que com holismo – eu sei que nos ensinam que isso é holismo, mas está errado.
Eu creio que existem uma predominância do pensamento holista e ecológico na MTC enquanto existe uma predominância do modelos biomédico na Medicina Ocidental. Mas isso não significa que a MTC não tenha também incorporado formas de pensar semelhantes oa modelos biomédico ou que a MTC não tenha formas de pensar holistas ou ecológicas.
Mas isto fica para um outro artigo.
abraço e obrigado pela tua contribuição…. qualquer dia já sai mais uma aula de Medicina Chinesa na China. lololol
beijo
Verdade, é muito pertinente esta questão da real distinção entre holismo e empatia.
Às vezes o doente procura acima de tudo ser compreendido, ser ouvido pelo médico que o atende. Ora nem sempre o médico tem essa disponibilidade.
As medicinas não convencionais nesse aspecto, podem disponibilizar mais tempo ao doente, vindo ao encontro das suas expectativas.
Não percebo como é que deixei passar este post, ando a falhar…
Desde já, obrigada à Marta por ter deixado este comentário que me fez vir aqui.
holismo
(grego hólos, -e, todo + -ismo)
s. m.
1. Med. Psicol. Doutrina que concebe o indivíduo como um todo que não se explica apenas pela soma das suas partes, apenas podendo ser entendido na sua integridade.
2. Concepção!, nas ciências humanas e sociais, que defende a importância da compreensão integral dos fenómenos e não a análise isolada dos seus constituintes.
Desculpa, Nuno, mas a medicina convencional não é holista. lololol
Nem na vertente do médico de família, que realmente te analisa todo, mas não como um todo, apenas te encaminhas para as diversas especialidades.
Não é porque a medicina convencional te trata todo, que te trata como um todo. O Cardiologista não quer saber se tens pedras nos rins, enxaquecas ou se usas óculos. E não me venhas dizer que é holista porque te diz para reduzires no sal se tiveres tensão alta.
E não é uma questão de empatia, se eu disser ao meu Pneumologista “Tenho imensas dores nos joelhos quando está frio”, ele até pode passar 2h a falar comigo, dar-me um ramo de flores, uma caixa de chocolates (After Eight de preferência) e passar-me a mão pela cabeça, mas vai, invariavelmente, acabar com a frase “Isso não é comigo, tem que consultar um ortopedista”
Para a Medicina Convencional, nós não somos analisados como um todo, mas sim como a soma das especialidades, desculpa, das partes 🙂
Quando dizes que a medicina ocidental não é holista acho que deverias primeiro diferenciar as suas diferentes especialidade. Especialidades como cardiologia são muito menos holistas que pediatria, por exemplo. Isso não significa que não existam especialidades médicas holistas.
Isto também não significa que a MO seja tão ou mais holista que a MTC. Mas efectivamente a nível da prescrição de determinados tratamentos ou prevenção de algumas condições clínicas a MO usa princípios holisticos. A osteoporose foi um exemplo, assim como as bolachas Maria.
Por outro lado se pensas que por se enviarem pacientes para outras especilidades é falta de holismo então temos de analisar as especialidades da MTC. A fitoterapia obriga a um maior conhecimento do diagnóstico (a diferenciação de síndromes é a base do holismo da MTC) do que a acupuntura. Muitas vezes reduzes o tratamento de acupuntura à teoria dos meridianos. Dentro da MTC a matéria médica é mais holista que a acupuntura. E não te admires se um acupunctor te enviar para o fitoterapeuta. lololol
PS: eu faço medicina chinesa e aconselho os meus doentes a recorrerem a essas especialidades médicas. Isso fará da MTC que pratico menos holista? lololol provocação hehehehehehe
Por outro lado muityas das criticas que se fazem à falta de holismo médico tem mais a ver com empatia. O médico pode enviar-te para outra especialidade mas de certeza que sais de lá com muito mais confiança nele se ele ouvir o que tens a dizer. Quantos pacientes não se vão tratar de algum sintoma quando o que realmente precisam é de conversar? É que só o facto de teres o médico a ouvir-te ajuda-te a combater a ansiedade provocada pela falta de diagnóstico ou pelo stresse da doença!
jinhos holistas extremamente empáticos (esta foi bonita) lololol