Reiki e o fim da fronteira com o senso comum

Há uns anos atrás num fórum que creio já não existir alguém postou algo sobre “reiki cientifico”. Sim dá vontade de rir. Recentemente uma leitora perguntou-me a minha opinião sobre o reiki. Bem, quem me conhece sabe que não vou muito com estas coisas e creio que era por causa disso que a leitora queria a minha opinião.

Talvez a melhor forma de ficar a saber as razões da minha oposição ao reiki tenham a ver com as suas origens e com o trabalho do seu fundador, o budista Mikao Usui, transformado em “Drº” Mikao Usui por inspiração divina.

O reiki tem origem em movimentos esotéricos orientais. Mais especificamente as suas origens encontram-se no tibet. Tornou-se conhecido no século XIX pelas mãos de um praticante japonês: Mikao Usui.

O trabalho do “Dr.º” Mikao Usui não tem conteúdo clinico nenhum. Foi para os EUA aprender teologia e tentar descobrir a forma como Jesus Cristo e os apóstolos faziam milagres. Desistiu dessa procura (compreensivelmente…) e voltou ao Japão.

No Japão notou que o Buda fazia o mesmo tipo de milagres que Jesus Cristo. Entrou para um mosteiro budista e começou a estudar os sutras de forma a encontrar formas de curar as doenças. Mais uma vez sem qualquer tipo de sucesso (obviamente…).

Mikao Usui foi aconselhado a ir para um outro mosteiro, no Tibet, onde poderia encontrar claridade espiritual. Após um episódio pituresco com luzes estranhas e contato com entidades sobrenaturais, Mikao Usui tinha-se transformado no “Dr.º” Mikao Usui (finalmente…)

O reiki é uma prática espiritual erradamente associada a medicinas tradicionais como a medicina japonesa, coreana ou chinesa. O reiki não tem nada a ver com este tipo de medicinas.

Obviamente que se ouve falar, no reiki, de meridianos (erradamente traduzidos como canais de energia) e pontos de acupuntura mas isso deve-se unicamente ao ambiente cultural asiático em que se encontrava Mikao Usui.

No entanto olhando para a história do reiki é possível verificar:

1 – nunca foi observado nenhum paciente

2 – o conhecimento foi passado por inspiração divina (sem comentários!) e não por prática clinica ou algo parecido.

3 – o conhecimento não é retirado da observação da natureza mas tão somente das crenças pessoais de Mikao Usui baseado em textos religiosos escritos por fundamentalistas que falam de episódios pitorescos e imaginários (a bíblia por exemplo está recheada de histórias que só podem ser aceites com base na autoridade de quem as passa e não por elas próprias devido à idiotice do seu conteúdo – ressuscitar mortos que já deviam estar em decomposição é talvez o exemplo mais conhecido).

O reiki é o resultado óbvio do trabalho de uma pessoa que passou tempo demais a jejuar, a rezar e a ler relatos esquizofrénicos de curas milagrosas escritos por fundamentalistas ignorantes há uns tantos séculos atrás.

 

Posteriormente foi acolhido nos meios mais que imbecis do new age no ocidente onde se pode criar todo o tipo de reikis desde “reiki cientifico” a “reiki celta”. Na realidade o tipo de reiki que se faz só depende mesmo da criatividade do seu autor. Este é o marketing new age a funcionar.

Há também quem prefira fazer reiki por telefones a cães. Não compreendo a razão que leva estas pessoas a discriminarem todo a restante fauna existente. Seria igualmente útil reiki por telefone a caracóis ou quem sabe à escherichia coli (foi esta a culpada pela minha pielonefrite aguda).

E o mais importante é que tudo isto se consegue fazer num único fim de semana. Basta 2 ou 3 sessões de meditação, bem pagas obviamente, e podem tornar-se um terapeuta de reiki. É caso para perguntar: se é assim tão fácil porque demorou tanto tempo a ser encontrado?

Também fico intrigado sobre o que responder a alguns doentes quando se faz reiki. Uma das coisas que os pacientes querem saber é se a pessoa tem experiência clinica. No caso do reiki é completamente desnecessário: aprende-se rapidamente pelo que a prática nem deve ser o mais importante, o próprio fundador não teve qualquer tipo de experiência clinica…

 

Regra geral ouço dois argumentos que pretendem credibilizar o reiki. Um deles refere o bem-estar que os pacientes parecem sentir durante e após a sessão de reiki e outro tem a ver com o facto de muitos terapeutas referirem alterações físicas quando começam a fazer reiki sendo a mais falada o calor presente nas mãos.

Será que o paciente se sente melhor após uma sessão de reiki?

Obviamente que sim. Imagine-se em silêncio quase absoluto, deitado, a ouvir uma música suave e relaxante com o calor das mãos do terapeuta a passar pelo corpo. Como acha que se vai sentir após isso? Mas isso não significa que as alegações reikianas tenham algum fundamento.

E os terapeutas ficam com as mãos quentes?

Pois. Esta é a segunda alegação feita por muitos praticantes. Antes tinham sempre as mãos frias e agora elas estão sempre quentes. A ver se nos entendemos: fazer meditação é bom para o corpo e para a mente. E as pessoas ficam com as mãos quentes. Eu também fico extremamente relaxado e com as mãos quentes após ouvir sessões de hipnoterapia do hipnoterapeuta Miguel coco (que aconselho já agora!).

Mas isso não significa que os disparates neuróticos, resultantes da imaginação de Mikao Usui com a esquizofrenia new age tenha realmente algum valor.