Ainda há não muito tempo existia uma política de “esconder o conhecimento da acupuntura” que vingava pelos profissionais de acupuntura em Portugal. Alguns colegas mais velhos e professores ensinaram-me que se deveria ter muito cuidado a passar o conhecimento para os outros. O conhecimento existia para ser escondido.
Ainda me lembro de visitar o site de uma nova escola em Portugal que publicitava nas cadeiras de acupuntura “pontos de acupuntura desconhecidos para a maioria dos ocidentais”. O conhecimento não só se escondia como se publicitava essa política.
Esconder o conhecimento da acupuntura: compreender a política
Nunca compreendi totalmente esta política: era mais semelhante ao comportamento típico de escolas esotéricas, cujo conhecimento deve ser preservado e escondido, do que de escolas com pensamento científico onde o conhecimento deve ser partilhado e discutido publicamente.
Na maioria das vezes reparei que esta politica não era mais que uma forma de fugir a uma discussão aberta sobre as “verdades” de cada escola. Uma forma de nos fecharmos numa pequena capelinha onde caberia toda a “nossa verdade” que não poderia ser refutada. Esta política de esconder o conhecimento não servia unicamente para esconder o conhecimento da “concorrência” mas também para esconder a nossa ignorância, para proteger o nosso medo do ridiculo.
Outra coisa que me deixava um pouco zonzo com tanto jogo das escondidas era que, na verdade, qualquer um podia ter acesso àquele conhecimento. Os melhores livros encontram-se escritos ou traduzidos para inglês e qualquer pessoa os podia comprar na internet. Procurava-se esconder no mundo real aquilo que facilmente se encontrava no mundo virtual.
Esta política, obviamente, não tinha grande futuro e felizmente que começou a desaparecer. A internet permitiu a formação de fóruns e blogues que acabaram por mobilizar uma parte da comunidade de acupunturistas. Redes sociais acabaram por juntar profissionais que não se conheciam e fóruns permitiram-lhes encontros regulares onde diversas discussões podiam ter lugar.
Esconder o conhecimento da acupuntura não é compatível com uma sociedade livre, uma sociedade baseada na informação e no consentimento informado. O desenvolvimento tecnológico, científico e humano dependem da partilha de conhecimento e não do contrário.
Vou fugir um pouco do tema da acupunctura, mas não pude deixar de sorrir quando li este texto. É que me parece que esta ” técnica” do esconder é muito nossa, muito portuguesa: O que aqui nos relata o Nuno Lemos, não se passa apenas nesta área. Passa-se em organismos públicos e empresas privadas.
Com a chamada concorrência à solta, e sem regras, há funcionários que não partilham certas práticas e certos saberes a quem chega de novo, com medo que lhes passem à frente… Ou seja, não me parece que esse seja um mal só da acupunctura…
E já agora, como é por essa Europa, no que respeita aos acupunctores ?
Também me lembro do Professor Marcelo Rebelo de Sousa se queixar que muitos alunos dele no ensino superior faziam a mesma coisa. Escondiam algumas fotocópias para os colegas não terem acesso à informação.
Mas neste caso, da acupunctura, acho que é ridiculo porque a informação encontrava-se amplamente distribuida.
A nível europeu e mundial – e actualmente também a nível nacional – existe uma grande abertura. Portugal está sempre um pouco atrasado. Mas no estrangeiro existem publicações cientificas e para se ter credibilidade tem de publicar artigos de investigação.
Obviamente quie podem existir muitas variações consoante a MTC esteja bem divulgada ou não, consoante se encontre regulamentada e inserida no SNS, etc… Na China por exemplo, onde a MTC é praticada amplamente em hospitais públicos, existem imensas universidades e revistas cientificas da especialidade. Quanto mais se publicitarem as descobertas que se fazem mais credibilidade se tem.
Acho que neste caso tudo depende das condições em que tem de se exercer a MTC.
Eu não posso deixar de pensar que existe um certo ponto de dúvida no meu texto. Acredito na transparência e passagem do conhecimento mas tambéms ei que posso estar a passar informações para pessoas que não deviam estar a exercer porque não tem formação para isso e não tem problemas de consciência nenhums em atender doentes.
Abraço
Nuno, sou sua admiradora , realmente sua abertura para dividir conosco seus conhecimentos e experiências nos enriquece. Concordo que “esconder” o conhecimento na realidade demonstra o medo de mostrar o desconhecimento. Quanto mais informações claras e transparentes forem veiculadas, maior a possibilidade daqueles menos formados perceberem a sua ignorância e correr atras do conhecimento. Quem não tem escrúpulos de qualquer forma vai atender doentes, haja disponibilidade ou não de informações e conhecimentos. Peço a Deus para iluminar meu caminho (ainda em formação na acupuntura) e agradeço encontrar pessoas como voce ! Um grande abraço
Obrigado Josefina. É sempre importante para um blogguer saber que consegue fazer chegar a sua mensagem aos diferentes leitores e que lhe consegue dar alguns momentos de boa leitura.
Boa sorte para os seus estudos.
abraço
Caro Nuno,
Não é somente em Portugal, no Brasil enfrentamos situações parecidas, mas evidentemente é o medo da ignorância, Não do conheescimento…
Canal MV.
Infelizmente a ignorância não conhece fronteiras… lolololol
abraço