Medicamentos e plantas medicinais: uma perspetiva química

Temos por hábito catalogar os medicamentos ocidentais como químicos. São químicos e são maus para a saúde. Tudo o que é químico é mau para a saúde. No entanto as plantas medicinais que são naturais já são boas para a saúde.

Medicamentos e plantas medicinais: pre-conceitos

Este pensamento falha em dois momentos: nem tudo o que é natural faz bem à saúde (ou pelo menos não deve ser tomado de forma indiscriminada. Se ainda tiver dúvidas pense numa matilha de lobos esfomeados… conhece algo mais natural que isso?) e tanto os medicamentos artificiais como os naturais tem químicos. Sob a perspectiva de um químico tudo se resume a química.

Os químicos (princípios activos de uma planta) são os mesmos usados por muitos medicamentos. Fica a questão: qual é, então, a diferença, em termos de química entre um medicamento e uma planta natural? Afinal de contas a aspirina é feita a partir da raiz do salgueiro mas são coisas diferentes. Mesmo falando unicamente a nível químico a raiz do salgueiro é diferente de um comprimido de aspirina.

Medicamentos e plantas medicinais: diferenças

A melhor forma de sabermos entre medicamentos e plantas medicinais as diferenças consiste em saber como se chega ao medicamento a partir da planta medicinal.

Em primeiro lugar procuram-se plantas cuja descrição histórica faça referência a determinadas propriedades terapêuticas. As empresas farmacêuticas enviam muitos investigadores para a amazónia de forma a estudar o que as tribos locais sabem sobre plantas medicinais locais.

Depois fazem-se estudos para observar se essa planta tem realmente eficácia clínica ou não. Existem diferentes tipos de estudos e não vou estar a entrar em pormenores. Uma vez testada a eficácia clínica da planta começa-se a estudar os seus diferentes compostos químicos (sim existem! É comum aparecerem na literatura científica como fitoquímicos).

E procuram-se fazer estudos com esses compostos em separado. Quando se encontra um princípio activo (composto químico) que produz efeitos clínicos e este não tem nenhuma contra-indicação à sua comercialização, então produz-se o medicamento. Basicamente sintetiza-se aquela molécula química e produz-se em grandes quantidades.

Este processo permite-nos compreender as principais diferenças entre uma planta medicinal e um medicamento feito à base dessa planta: o medicamento possui um único princípio activo enquanto a planta medicinal possui imensos. Para o medicamento só interessa aquele princípio activo que se mostra eficaz no tratamento de determinada queixa. Por outras palavras, a planta medicinal é o rei dos químicos.

A única diferença entre o químico existente na planta e o químico existente no medicamento são as quantidades em que é encontrado. Sob o ponto de vista químico não existe diferença qualitativa entre os dois.

Num medicamento existe 1 ou 2 princípios ativos em quantidades muito grandes. Numa planta medicinal existem imensos princípios ativos mas em quantidades mais pequenas. Mas é tudo química. Os princípios activos são químicos.

Os efeitos secundários são decorrentes, muitas das vezes, à presença de doses muito elevadas de um único princípio ativo. Por isso as plantas medicinais não possuem tantos efeitos secundários. O princípio ativo existe em menor quantidade e, algumas vezes, o seu potencial tóxico é inibido pela presença de outro princípio ativo. Mas isto não significa que não existam efeitos secundários nas plantas medicinais. Eles existem, são reais e podem ser perigosos.